terça-feira, 21 de setembro de 2010

Aniversário da minha irmã, Valéria!

Bonjour, Valéria,



Hoje é o dia mais difícil desde que cheguei à França. Na próxima semana completo 6 meses aqui! Às vezes, me pergunto se sou normal. Todos os franceses que me conhecem, gente até bem legal, sempre pergunta se estou com saudade de casa. Sinto um pouco de constrangimento quando respondo que não. Sobretudo porque é verdade! Não sinto falta! Mas hoje gostaria muito de acordar e te dar um abraço.



Tenho essa coisa de tentar me compreender. Fico buscando a verdade que escondo de mim mesmo, fazendo minha própria psicanálise. São resquícios de quando fiz mesmo psicanálise. A gente adquire alguns vícios, depois é difícil abandonar! Procuro meus motivos, mas também escondo meus motivos. Acho que, de certa forma, toda partida é uma fuga. A gente faz o que quer. E acho que, no fundo, nunca vou poder explicar tudo de mim, nem a mim mesmo. Você, então, minha irmã querida, vai ter que ficar mesmo sem compreender. Só peço que continue me amando. Como também te amo.



Bom, entre todas essas nossas decisões, vc decidiu fazer 50 anos. Mais bonita que aos 20! É uma grande decisão e, também, muito sábia. Aos que criticam sua beleza de hoje, fica a evidência de que você decidiu por ela com a sabedoria que o tempo te trouxe. E você conseguiu essa sabedoria mais simples que invejo: a sabedoria da indulgência. E a mais importante: a sabedoria da auto-indulgência.



Você me faz pensar no anjo torto do Drummond, que, quando ele nasceu, disse: "Vai, Carlos! ser gauche na vida." Só acho que seu anjo, que nem sei se é torto, chegou um pouco atrasado e quando você fez 50 anos disse: "Vai, Valéria! ser feliz e turista na vida." Pode parecer que o seu anjo não é tão bom quanto o do Drummond afinal, chegou atrasado. Mas entre uma vida inteira sendo gauche e uma vida inteira depois dos 50 sendo feliz e turista, acho que o seu foi bem mais camarada.



Outro dia, quando falávamos da mãe, você me disse que ela nos ensinou a apreciar as coisas verdadeiramente valiosas da vida. Às vezes tenho dúvidas se aprecio da melhor maneira possível. Esse vício da psicanálise parece que tira um pouco do brilho das coisas que vejo. Queria ser um pouco como o Fernando Pessoa que, tendo um olhar todo sofisticado sobre o mundo, conseguiu inventar um outro olhar, pra poder continuar a ver o brilho. O grande golpe do FP foi esse: inventar o Alberto Caeiro pra poder voltar a ver as coisas sem o filtro que toda a sua cultura trouxe ao seu olhar. Então escolhi desejar no seu aniversário aquelas coisas de sempre, felicidade, saúde, carinho de todos, mas quero desejar o que hoje desejo pra mim. Meu vício dificulta isso, mas acho que você consegue. Desejo que você veja o mundo assim:



O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...


Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914


Acho que esse é o maior desafio quando chegamos aos 50, poder olhar para a direita e para a esquerda e ver a cada momento aquilo que nunca tínhamos visto. Isso só, já é uma dádiva. Mas te desejo algo ainda maior: poder olhar pra trás de vez em quando nessa sua estrada e também lá atrás ver aquilo que nunca antes você tinha visto. Não sei, não. Tenho a impressão de que ainda tem aí um pedaço enorme de Fernando Pessoa no Alberto Caeiro. Que traição! ;-) Mas acho que, buscando a simplicidade, Fernando Pessoa inventou uma filosofia ainda mais complexa que a que ele tentava negar.



Bem, é isso! Vou ficar hoje aqui, pensando o tempo todo em você. Acho que vou estar com você. Essa é minha decisão de hoje: hoje vou estar com você.



Felicidades!



Ivan

domingo, 5 de setembro de 2010

Inveja na fnac!

É um tanto curioso morar num país cuja língua não se domina! A coisa que mais me faz falta é material de leitura. Com a internet isso fica menos evidente, porque tenho acesso a todos os sites de jornais brasileiros quando quiser. Mas e aquela vontade, aquela comichão bem no meio da fnac? A gente vê filas intermináveis de franceses carregando dúzias de livros pros caixas. Por que eu também não posso ler em francês?! A solução vem com um pouquinho de cara-de-pau somada ao jeitinho brasileiro. Não é bem livro, definitivamente não é literatura, mas é material de leitura na antiquada versão impressa. E uma forma de ficar lá na fila da livraria carregando algo além de dvds ou material pra limpeza do laptop.

No início das minhas férias, primeira semana de agosto, na Gibert Jeune, uma livraria enorme em Saint-Michel, comprei algo que tá em todo lugar nessa época de férias. São uns almanaques de quase 100 páginas, brochura de tamanho universitário. Coisa mesmo pra "diversão" durante as férias. Nas capas têm um selinho do tipo "350 quiz e jeux por vous tester!". Comprei 3 de "Le Monde": "Connaissez-vous la France?", "Connaissez-vous l'histoire de France?" e "Connaissez-vous la politique?", por 5,95 euros cada. É muito divertido! Mesmo o Patrick gosta de tentar responder às perguntas, às vezes básicas, outras bem de cultura inútil.

Dá inclusive pra perceber as tendências políticas do "Monde" em questões do tipo "l'une de ces personnes ne figurait pas parmi les personnalités invitées au Fouquet's le soir de l'élection de Nicolas Sarkozy à la présidence de la République. Laquelle est-ce?" (uma destas pessoas não figurava entre as personalidades convidadas à festa pela eleição de Sarkozy à presidência da República. Qual?) Claro que as 4 opções de respostas erradas eram nomes dos "barões" da economia francesa, donos de grandes empresas automobilísticas e aeronáuticas, todos amiguinhos íntimos do Sarkô. Como se o "Monde" não fosse mais de direita ainda... de qualquer forma, é uma outra direita.

Mas não são só perguntas. Tem bastante texto. Tem um bem engraçado, porque é do tipo editorial, mas sem nenhum alerta ;-): "L'Europe, mais quelle Europe? - Hier au coeur d'une Europe occidentale partiellement rassemblée, la France se sent aujourd'hui un peu perdue dans un vaste ensemble aux institutions lourdes, aux objectifs incertains, aux limites imprécises, et de plus en plus dominé par la langue et les références culturelles dites anglo-saxones. Après les débats liés à la Guerre froide, les polémiques portent à présent sur la place de l'Europe dans la mondialisation et sur celle de la France dans cette Union qui suscite espoirs et craintes." Não é curioso, num livrinho que se propõe informativo? O texto nem vem assinado e acha que pode falar em nome da França, “das esperanças e dos medos” que a UE suscita, do desconforto diante de um domínio cada vez maior da língua e da cultura anglo-saxônicas.Fiquei de queixo caído. Mas isso também não deixa de ser "informação", não é mesmo?!

Depois, na fnac, encontrei mais umas coisinhas interessantes. No mesmo formato almanaque comprei "300 jeux e quiz de littérature française", 5,90 euros, dessa vez de "Le Figaro", com 80 páginas. Mas finalmente encontrei o que procurava: "La littérature française", coleção "repéres pratiques" duma tal editora nathan ( www.nathan.fr/reperes-pratiques ) que "permet de balayer onze siècles d'histoire littéraire"! Só 160 páginas e por apenas 11,60 euros ;-)

Estou feliz e com leitura pra lá de suficiente pros meus 2 meses de férias. Mas claro que ainda tenho que estudar muita gramática. Andei pensando no meu futuro por aqui. Por conta disso estou planejando um curso de 1 ano de educação continuada na Universidade de Nanterre, que fica aqui pertinho de casa. Tem uma série de coisas que não posso controlar e que espero que estejam em ordem até a época da matrícula. O que posso é me preparar pensando positivamente que vou conseguir uma vaga. Nesse caso, preciso estudar muito francês pra passar pelo menos no DALF C1 (exame avançado de língua francesa) e conhecer minimamente a cultura e a literatura deste país. Essas coisas são pré-requisitos pra fazer o curso, além do domínio de 2 línguas estrangeiras, mas pode ser inglês e português, então estou tranquilo com este último tópico.

sábado, 28 de agosto de 2010

Ainda restrito aos blockbusters...

Na semana passada fomos assistir a "Le dernier maître de l'air", o filme baseado naquele desenhinho animado chamado "Avatar". Acho que tiveram que trocar o nome por conta do filme do James Cameron. Quanta decepção! O filme é dirigido pelo M. Night Shyamalan, o mesmo que dirigiu "O sexto sentido", mas parece que ele realmente errou a mão desta vez. Acho que o maior problema foi mesmo a mão do diretor, presente em cada cena, cada diálogo e determinada a estragar tudo. Honestamente, o filme tem os piores diálogos que já ouvi no cinema, sem exagero.

Ontem fui sozinho, às 11h40, assistir a "Salt", o filme de espiã da Angelina Jolie. Fui com expectativa baixíssima por conta das críticas negativas que tinha lido. Achei o filme super "hollywoodianamente" normal. Não entendi por que tanto alarde. A história é exagerada? Sim, mas e os 007 que a gente engole desde criança e adora? Todos os comentários que li soam um tanto machistas. O problema é o fato de que 007 virou mulher neste filme? Será que ninguém se lembra mais de Brigitte Montfort? Daqueles livrinhos de qualidade duvidosa, pra lá de kitsch?! Ou será que é porque ninguém engole mais histórias com a Guerra Fria como pano de fundo? Que falta faz a personificação de coisas básicas como o "bem" e o "mal", não?! A vida parecia mais simples quando os heróis americanos ainda tentavam livrar o mundo dos monstros comunistas.

Entretanto, ainda outro dia li que "espiões" russos foram presos nos "isteites". A única coisa que me surpreendeu mais foi que alguns dias depois os presos foram trocados por espiões norte-americanos capturados em Moscou. Eu, hein?! Dejà vu no jornal?!

Hoje fomos, eu e o Patrick, novamente ao cinema. Desta vez foi o filminho da Disney, "Aprendiz de feiticeiro". Claramente pra adolescente. Até difícil de encontrar versão legendada, principalmente às 9h15 da manhã. Gostamos de ir ao cinema aos sábados pela manhã. Quando critico, um amigo diz: "também, quem manda assistir a filme pra adolescente?" Muito preconceito! Conheço vários adolescentes que gostam de filmes de ação mas poderiam se divertir também com enredos mais elaborados, menor previsibilidade. Por que tudo tem que ser tão óbvio?

Bom, pra terminar este post com alguma utilidade além do meu desabafo por estar temporariamente condenado a assistir somente a blockbusters (por conta da minha incapacidade de compreender francês suficientemente pra assistir a algo mais complexo) deixo algumas informações de serviço: o ingresso de cinema às 9h00 custa 6 euros; mais tarde sobe pra 10,40 euros! As sessões diurnas de filmes mais juvenis são geralmente em V.F. (versão francesa, quer dizer, dublados em francês) e as noturnas são em V.O. (versão original, na língua original)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Realmente curta....

Exercício de postagem curta...

Adoro o "cooling pad" da Logitech que comprei na fnac por 29 euros. Fico feliz em acreditar que faço algo de bom pro meu laptop e não queimo meu "lap"! E o ventiladorzinho é danado de silencioso. Pronto! Postagem curta não pode ter mais que 4 linhas.

Curtas...

Parece que não é tão simples assim manter um blog, mesmo quando a gente decide escrever pouco. No mês de julho andei sem tempo por conta do curso intensivo de francês. Aulas todas as manhãs e toneladas de lição de casa com muita gramática não deixavam muito espaço pra inspiração. Mas agora, já em férias completas, acho que é a preguiça mesmo que resolveu sequestrar a musa inspiradora dos blogs.

Hoje, por exemplo, é quarta-feira, acordei às 8h00 pra tomar um chá com o Patrick e me despedir dele que ia pro trabalho. O próximo compromisso é às 15h00 com o gerente do banco pra abrir minha conta. Todo esse tempo livre faz a gente deixar tudo pra mais tarde. Quer dizer, isso se aplica a mim. Admito que conheço um monte de gente organizada que certamente aplica o tempo livre em atividades úteis e interessantes. Eu, no entanto, funciono diferente. Quanto mais tempo livre, menos vontade de me mexer. Sou um grande procrastinador, essa é a verdade. Adoro o verbo "procrastinar" e naturalmente adoro a ação de procrastinar.

Conheci no Brasil um americano que falava 7 línguas! Bem atípico, é lógico. Esse senhor me disse que não existia um correspondente a "deadline" em português do Brasil. Não sei, mas toda vez que tenho uma (ou um?) "deadline" é sempre a mesma coisa: me enrolo no tal verbo que citei acima e ficamos lá, namorando, rolando embaixo das cobertas se é inverno, brincando de esfregar cubos de gelo em partes íntimas no verão, pra só lembrar do(a) maldito(a) "deadline" em cima da hora.

Eu já disse que detesto estereótipos nacionais, mas acho que nós brasileiros temos uma ótima relação com a procrastinação e a preguiça. Logo que me mudei pra cá percebi o incômodo do Patrick quando eu dizia de manhã que estava com preguiça. Percebi que pra ele a própria palavra já deve ser proscrita. Sei lá se isso tem a ver com o Weber porque minhas aulas medíocres de filosofia e sociologia com um professor quase doutor e mal alfabetizado nunca me levaram muito longe nesse campo, mas sei que deu um trabalhão convencer o Patrick de que ter preguiça não é algo assim tão horrível. Acabei baixando o "Macunaíma" da internet pra mostrar pra ele que mesmo nosso herói nacional começou a vida cheio de preguiça até pra falar.

Inevitavelmente começo a imaginar o blog do Macunaíma. Teria com certeza menos "posts" que o meu, todos muito curtos, monossilábicos, aposto. Duro, mesmo, é que também acho que seria muito mais interessante ;-)

Ai, que preguiça!!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Petites choses

Parece que está muito difícil manter este blog! As previsões do meu irmão se confirmaram: comecei muito afoito, liberando uma represa, e agora não flui mais nada.

Tomei a decisão de tentar colocar pequenos posts aqui. Isso me lembra "O livro de cabeceira" de Sei Shonagon ("Makura-no-sôshi" escrito no ano 1000). Mas já previno meus leitores de que minhas pequenas impressões não serão tão poéticas nem eróticas.

Começando então com moda (na verdade, acho que tudo é moda): já comentei que os sapatos masculinos aqui têm bico muito mais fino e são bem mais longos?! Essa moda não me atrai muito, mesmo porque não preciso de sapatos novos, mas hoje, pela primeira vez, adotei um costume que me chamou atenção desde que cheguei: os parisienses usam camisa polo com a gola levantada. Senti uma certa estranheza antes de sair de casa, mas todo mundo que passou por mim na rua sem me lançar nem o mais discreto olhar, acabou me confirmando que eu estava na moda. Ah! E alguém que me lançou um olhar bem pouco discreto acabou sendo um estímulo extra.

Em tempo, o olhar indiscreto e simpático, embora tentador, não foi correspondido, porque hoje sou um homem casado e monogâmico. Quase de ferro!

Outra moda, ou não, sei lá. Se for moda, é permanente, segundo o Patrick: cadernos franceses são quadriculados! Nesta época de "rentrée", que é o retorno das férias de verão no final de setembro, todas as papelarias e supermercados têm uma sessão enorme de material escolar. Mas pode procurar, todos os cadernos são quadriculados. Na verdade, a maioria é milimetrado! Minha amiga Renata estava procurando um bom caderninho com linhas exclusivamente horizontais como os brasileiros, mas só encontra se for inglês ou americano. Obviamente, estes custam os "zóios".

Bem, é o que tem pra hoje. Minha amiga Sei Shonagon já pode voltar a repousar tranquila em seu túmulo milenar.

domingo, 4 de julho de 2010

Sábado com feijoada.


Ontem fizemos nossa primeira feijoada. As cobaias foram o Sérgio, brasileiro e o Lionel, francês. Não sei se por pura gentileza de visitantes, mas ambos disseram que estava muito boa ;-)




O Patrick ajudou muito, mas acho que posso dizer que os créditos, desta vez, são meus. Ele descobriu uma "couve chinesa" que tem por aqui, porque a única coisa que a gente não descobriu, ou pelo menos um substituto à altura, foi mesmo a verdura. Então, o crédito da "couve chinesa" fica mesmo pro Patrick. Ela ficou, depois de refogada, mais parecida com acelga.

Também fiz o arroz branco e a farofa, com banana crua, como a Paty faz, e todo mundo adorou.

Pronomes relativos e subjuntivo ;-)

Acho que gosto um pouco demais de gramática! Gosto de nomenclatura gramatical, o que, para alguns linguistas, pode parecer até um crime. Este meu período estudando francês parece aguçar isso. Talvez porque os professores de francês como língua estrangeira (FLE) que encontrei até agora na França (pelo menos 3 em 4) são muito gramaticalistas. Também porque cheguei ao bendito subjuntivo em francês. Comecei a pensar como é bom ser falante de português nessas horas. O português tem usos bem parecidos para o subjuntivo.

Quando estudei pronome relativo já pensei muito nos meus alunos de inglês no Brasil que não conseguiam entender meu mau humor quando eles usavam só 2 pronomes relativos ("que" e "onde") pra qualquer situação e nunca uma preposição combinada. O resultado é que tinham uma dificuldade enorme pra transferir isso pro inglês. E sempre me achavam chato nas correções porque diziam que a preposição era um "detalhe bobo" em expressões como "in which", "from which", "of which". Imagine quando eu tentava ensinar "whose" e eles descobriam que correspondia ao "cujo" do português.

Agora que estou brigando com o subjuntivo francês e acho difícil quando ele não corresponde ao nosso, como com o verbo "esperar/espérer", fico pensando no falante médio de português em São Paulo. Sou neurótico ou o paulistano cada vez mais se recusa a usar o subjuntivo?! Minha amiga Fê Damigo, professora universitária, profunda conhecedora dos tempos e modos verbais, também me chama de chato e diz que adora quando a sobrinha pergunta "quer que eu busco"?. Fê concorda comigo que isso é o "subjuntivo paulistano" e diz que adora.

A verdade é que também acho "engraçadinho" o jeito como as crianças falam. Mas os adultos não deviam falar de outro jeito? Pelo menos os adultos que passaram alguns anos nos bancos escolares?! Aí lembro da minha amiga Lusia, que sempre me questiona a relevância do conteúdo ensinado na escola. Ela me cutucava quando eu achava um absurdo que um aluno olhasse o mapa da Europa e confundisse a Grã-Bretanha com a Grécia, com a desculpa de que ouvia muito falar em "Ilhas Gregas". Detalhe! A aluna que me expôs a essa pérola era formada em geografia!

Acho que aos 44 anos assumo meu consevadorismo e meu ranço linguístico. Tudo isso para manifestar mais um dos meus preconceitos ;-) Não li nada a respeito mas, totalmente baseado nos meus achismos (e num papo com uma amiga carioca que me disse que no RJ ela nunca ouviu um adulto perguntar "quer que eu busco?") escrevo aqui que a educação em SP está matando o português. O português paulistano é dos piores praticados no Brasil. A arrogância dos paulistanos não permite enxergar isso, mas acho que os resultados em exames escolares confirmam minha afirmação.

Este meu texto polêmico e até um pouco agressivo também foi provocado por um comentário que li no caderno Link do Estadão. Foi postado por um leitor que não posso identificar. Alguém cujo passado escolar não me diz respeito, mas suponho que leitor do Estadão represente um brasileiro medianamente educado. Também nem sei se é um leitor paulistano, são hipóteses. Mas acho difícil ficar indiferente a um texto como este:

"03/07/2010 - 17:07
Enviado por: XXXXX

Na verdade é um problema cultural, para a nossa cultura não há de errado, pois vemos coisas mais expostas na praias e piscinas. Mas em outros lugares do planeta a coisa não é assim, esse tipo de imagem é visto como pura pornografia. O FaceBook tem alcance mundial e esta agindo de acordo com o ambiente multicultural que atua. A gravadora Universal sabe disso e deveria ter evitado essa polemica. Acho que mesmo que a polemica é proposital, ela é que é a verdadeira propaganda do disco."

Agora, senhores linguistas de plantão, iluminem-me! Estou aberto a rever meus preconceitos. Alguém ajude. Quem sabe eu possa compreender os caminhos percorridos pela língua portuguesa nessa metrópole fantástica que é São Paulo?! Se preferirem, apontem meus erros de português, que também não devem ser poucos. Mas não consigo deixar de ter algum dó de professores de francês como língua estrangeira em SP. Se eu sofria com o pronome relativo, imagine ter que ensinar isso e mais o subjuntivo em uma língua estrangeira pra alguém que matou ambos na primeira língua, ou que os classifica como "detalhe bobo"

domingo, 20 de junho de 2010

Epifania no Museu Rodin.


Ontem, 19/06/2010, fomos visitar o Museu Rodin. Foi minha primeira visita e gostei bastante, principalmente porque é um museu pequeno, daqueles que não saturam a capacidade de percepção estética. A verdade é que canso do Louvre e, toda vez que vou lá, saio achando qualquer obra de arte um saco ;-)





Mas o que me surpreendeu, mesmo, foi o choque que tive ao ver um negro lá dentro! O lugar estava lotado, como deve estar sempre. Se eu não tivesse me deparado com esse único negro, provavelmente não teria notado nada de estranho, a não ser os remendos mal feitos no assoalho, que fazem as pessoas tropeçarem durante a visita.






Mas a visão desse único homem negro, entre mais de uma centena de visitantes em um museu tão pequeno, me fez pensar nas minhas idéias pré-concebidas sobre a Europa. Tá bem, ninguém me disse que a Europa era um lugar perfeito, mas acho que eu esperava um pouco mais de igualdade racial aqui.



Paris tem uma população de afrodescendentes enorme. Encontro essas pessoas diariamente no transporte coletivo. Se elas vivem, trabalham, transitam por Paris, por que não estão no museu? Na verdade, não estão NOS museus. Com esse choque de ontem, me lembrei da minha visita co Museu de Artes Decorativas na sexta-feira, 18/06, e mesmo da minha última visita ao Louvre, quando o Manolo estava em Paris. Não há negros nesses lugares! Pelo menos nunca vi um número significativo, que correspondesse à porcentagem da população.





Acho que o mais chocante é mesmo minha ingenuidade, minha surpresa!

domingo, 6 de junho de 2010

Conversas bilingues.

No dia 26 de maio, convidado por nossa amiga Vicki, de NY, fui a um encontro de falantes de língua inglesa. A Vicki, não lembro se já comentei aqui, é esposa do Bob, ex-colega de trabalho do Patrick. Eles são um casal muito simpático, vivendo em Paris há 4 anos. Já nos convidaram pra jantar e também já fomos juntos visitar o Castelo de Fontainebleau, onde viveu Napoleão I. Bem, ela é super gentil e se preocupa com minha adaptação e, principalmente, com minha dependência do Patrick. Vive me dizendo que devo me preparar pra quando o Patrick voltar a trabalhar, o quê, aliás, será amanhã ;-)

O encontro em inglês é organizado por um francês, Jean-François, mas reúne uma boa variedade de pessoas. Tudo bem que nacionalidades não passaram de 3: americana (3 pessoas), francesa (acho que 1 dúzia) e brasileira (1!). Foi legal, mas um tanto difícil de aproveitar, porque tinha música no bar e muita gente tentando falar ao mesmo tempo. Acabei não fazendo contato com pelo menos metade dos participantes. Mas mesmo assim valeu a pena, porque conheci minha amiga Edna.

Edna é uma professora de francês pra crianças e adolescentes estrangeiros. Foi casada, tem um filho de 23 anos e ainda considera os outros 2 filhos do ex como se fossem seus. É super aberta, boa ouvinte, curiosa e adora viajar. Como bico, nas férias, acompanha crianças francesas ricas em viagens a países de língua inglesa. Já fez isso várias vezes na Inglaterra e na Irlanda. Também já levou anjinhos a Boston. Agora, como está na agência que organiza as viagens há muito tempo, vai pela primeira vez à Austrália.

Foi a própria Edna que propôs encontros pra intercâmbio linguístico. O Bob fez muita propaganda do meu inglês e minha capacidade como professor de língua estrangeira ;-). O fato é que tá muito legal. Escolhemos a terça-feira. Na semana passada fomos a um café chamado Odessa, perto de Montparnasse. Na próxima terça vamos a outro lugar, chamado La Tartine, na rue de Rivoli. Falamos 1 hora em inglês e depois 1 outra em francês. Acho que desta vez vou propor a inversão da ordem. A Edna é muito compreensiva e me estimula muito quando falo francês. Sei que meu francês tem um nível muito mais básico que o inglês dela, mesmo assim ela é sempre paciente e me elogia muito ;-)

Cuidado: crottes/troços na calçada!

Todo mundo já deve ter ouvido falar do amor, ou da fixação, dos parisienses por cachorros. Minha professora disse, outro dia, que se um pai espancar o filho na rua, ninguém se intromete, mas se o agredido for um totó, vira caso de polícia. Tudo bem, espero que tenha sido um exagero. A verdade é que já nem me revolto tanto quando alguém entra com o bichinho de estimação e ocupa uma mesa de restaurante ao lado da minha.

Agora, não dá pra engolir que os cidadãos não recolham o cocô! Todo mundo fala disso. Os "crottes" ou "troços" já são uma instituição parisiense, como as bicicletas ou as baguetes. Estão em todo lugar. Existe multa prevista, mas ninguém parece se importar. Esse é um dos paradoxos de Paris, que coincidentemente estamos discutindo na "Alliance Française" estes dias. Na verdade, talvez seja o mais superficial e o menos importante dos paradoxos, mas é um dos mais visíveis.

Estou relendo "The Flâneur - A Stroll through the Paradoxes of Paris" do Edmund White. E é incrível como dois meses vivendo aqui já mudaram completamente minha percepção. Parece um novo livro! O mais incrível é que eu nem tinha notado o subtítulo na primeira leitura.


Pra ilustrar este post, também porque acho que fica monótono quando escrevo sem fotos, vai um registro tomado neste sábado, 5 de junho, na entrado do "Champ de Mars", onde fomos encontrar a amiga do Patrick, Celia, com as crianças, Lucien,4, e Louise, 3.

Policiais gentis ;-)

Outro dia fui passear em Paris, na verdade, com o objetivo específico de comprar algum livro pra me ajudar a praticar pronúncia. Fiz meu caminho preferido: metrô até Châtelet, no 1º "arrondissement" e caminhada pelo Boulevard de Sebastopol. Gosto porque assim posso atravessar a Ilha "de la Cité" pelo meio dos turistas e chegar às livrarias Gibert Jeune do outro lado do Sena, na praça "Saint Michel".

Quando atravessei a Ponte "au Change", pra "entrar" na ilha, presenciei uma cena um pouco perversa, mas interessante. Um turista perguntou a um policial, no que me pareceu francês perfeito, onde ficava a "Fontaine St. Michel". Sem piscar o policial olhou pra fonte mais próxima e apontou: "é ali". O turista pareceu muito decepcionado, provavelmente porque já tinha visto uma foto da Fonte São Michel e imaginava algo muito mais suntuoso, como é, na verdade. Fiquei feliz por entender tudo isso e, me achando quase parisiense, decidi fazer justiça, desarmando o golpe do policial que provavelmente, cansado de turistas, resolveu pregar uma peça que só ele deve achar divertida. Alcancei o turista e apontei a direção correta da fonte. Ele aceitou minha ajuda, mas parecia ainda mais decepcionado com a minha intervenção.

Não entendi o turista... mas como brasileiro, que acredita que "quase" todos os policiais são perversos, não tive nenhuma dúvida no meu julgamento do "poulet" (na gíria, os policiais são conhecidos como "frangos").

terça-feira, 25 de maio de 2010

Porradas críticas.



Despertei o verdugo!!! Na verdade, eu já estava esperando o cacetete (do francês: "casse-tête" = quebra-cabeça) cantar. Sei que ando escrevendo coisas desinteressantes, não tenho desculpas. Vamos tentar elevar o nível do blog que anda, segundo a crítica, "meio borboleteante, superficial, tipo Caras".

Eu nem fazia idéia que algumas pessoas conheciam o conteúdo de Caras ;-) Pessoalmente, acho Caras legal, até surpreendente. Adorei um dia ver lá uma foto de um cara importante ao lado de esposa e filhos e reconhecer o sexo furtivo da véspera na sauna. Ou seja, também já "fiz" Caras. Ou melhor, conheço "profundamente" o conteúdo de Caras.

Não sei se estou, tardiamente, me transformando em turista deslumbrado. Se for isso, mudo o título do blog pra "Paris é um luxo", sem problemas. De qualquer forma, andei mesmo turisteando na última semana, por conta de ter meu amigo Manolo em visita de quarta a domingo.

Mas tivemos uma experiência bem legal em Montmartre, a respeito da qual talvez alguém esteja interessado em ler. Levei o Manolo pras escadarias da Sacré Coeur porque de lá se tem uma vista legal da cidade, ainda mais com o sol que fazia. Foi quinta, o Manolo me obrigou a entrar na igreja ;-) É legalzinha, mas não me interessa tanto quanto as medievais. Depois fomos pras ruas de Montmartre procurar um lugar pra comer. Entramos no bairro junto com uma excursão de brasileiros e achamos que o almoço ia parecer o de uma cantina do Bixiga em São Paulo.



Acabamos entrando num restaurante chamado "Le Vieux Châlet". A entrada é meio sujinha, mas tinha mesas no pátio interno e resolvemos tentar. Pedi uma mesa ao senhor atrás do balcão e ele me disse que o "patron" estava no pátio. Entramos e outro senhor nos mandou sentar na primeira mesa. Outras 4 mesas livres pegadas à nossa.

Logo em seguida entrou um casal. Acho interessante que aqui ninguém senta sem falar com o garçom. Pelo que me lembro, no Brasil a gente senta no primeiro lugar vazio que encontra. Alguém me corrija se eu estiver delirando. Como eu disse, o lugar não é nenhum restaurante de luxo. O senhor, que deve ter uns 70 anos, disse que não tinha nenhuma mesa disponível. No cardápio avisava que em dias de tempo bom a comida era servida no pátio. Só aí percebemos que o salão estava vazio.

Aguardamos uns 15 minutos sem que ninguém nem falasse com a gente. Mas, como uns 3 casais já tinham sido postos pra correr, eu disse pro Manolo que não sairia dali sem comer por nada neste mundo. Ainda que eu estivesse, sim, me sentindo um pouco mal atendido e achando que tinha metido meu amigo numa fria.

A surpresa veio quando o "patron" finalmente nos atendeu. O velhinho (nem sei se aos 44 a gente ainda pode chamar alguém de 70 assim), que achamos que era grosso por rejeitar clientes ou por nos deixar esperando, era na verdade um cara bem bacana. Começou pedindo desculpas por demorar e justificou que todo mundo chegou ao mesmo tempo. Pedimos 2 frangos e depois de algum tempo ele veio dizer que só podia servir um, pois era o último. Isso explicou porque ele dizia que não tinha mesas. Na verdade, não tinha comida. Talvez fosse mais simpático se ele dissesse logo que chegamos que estava enrolado e demoraria pra nos atender, ou se explicasse aos outros que não tinha mais comida pra eles.

Não sei se isso é deslumbre de turista, mas acho que estou começando a entender a lógica dos franceses. Não é mais lógica que a minha, acho mesmo que falta um conceito de prestação de serviço aqui, mas é assim que são os franceses. Não vim aqui pra mudar nada. Ah!... e meu frango tava ótimo, o porco que o Manolo aceitou em substituição ao dele, também, e o vinho rosé foi o melhor de tudo. O outro velhinho que estava atrás do balcão, e não ajudou em nada o coitado que serviu todo mundo sem parar, veio, depois que todo mundo saiu, limpar as mesas.

Taí, mais um post enorme e pior: não menos deslumbrado! É o que tem pra hoje.

À bien tôt...





segunda-feira, 24 de maio de 2010

Feriado de Pentecostes em Fontainebleau



A França parece ter intermináveis feriados católicos. Pelo menos eu tenho essa impressão. E tudo é desculpa pra não ter aulas na Alliance Française. Pentecostes é no domingo, mas eles têm o tal "lundi de pentecôte". Pois bem, fomos passear em Fontainebleau, onde tem uma floresta muito grande e também um castelo que Napoleão reformou e usou como residência no período em que foi imperador. Estava um sol de rachar. Hoje fez mais de 30ºC nesta terra. Parece que o verão começou mais cedo. Fomos com um casal de amigos americanos: Bob e Vicki.

domingo, 23 de maio de 2010

Mais ausência...




Ando com dificuldades em manter minha regularidade com este blog. Tá difícil!! Dias 13 e 14 de maio, viajamos, Patrick e eu, pra Normandia e Bretanha, pra comemorar 1 ano do dia em que nos conhecemos em São Paulo. Dia 17 tive meu exame oral de francês, o DELF. Dia 19 Manolo chegou de Lisboa e pronto!!! Voltei a ser turista por 5 dias. Fomos buscá-lo no aeroporto, fiz todos os passeios obrigatórios e hoje, 23 de maio, fomos levá-lo de volta ao aeroporto. Vou tentar regularizar os posts esta semana, inclusive com as centenas de fotos que tirei nestas 2 semanas. Incluo 3 fotos como aperitivo. A primeira, no Mont Saint-Michel. A segunda, dispensa comentários, e a terceira é o interior da Saint-Chapelle, que visitei pela primeira vez.



segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ausência

Muito bem. Volto depois de 10 dias, muita cobrança (também da minha parte) e uma sensação forte de que não tenho nada novo a dizer. Este texto promete ser chato, porque tenho que arrancar cada palavra. O preço é a manutenção do blog. Tenho a forte impressão de que, se passar de hoje sem publicar ao menos uma linha, o negócio todo desanda.

Por outro lado, hoje é uma data importante: completo 6 semanas em Paris!! Desorientado, frustrado com a minha batalha com a língua. Conversei com a Daniela ontem pelo skype e quando disse que me sinto cobrado por ainda não me virar tão bem em francês ela me disse isso: são SÓ 6 semanas! Preciso me lembrar de que há menos de 1 ano eu não falava nem uma única palavra em francês.

Às vezes percebo que o Patrick tem a impressão de que não faço todo o esforço que poderia pra progredir mais rápido. Mas a verdade é que não acredito que passar horas sentado à mesa com 4 ou 5 pessoas que falam perfeitamente o francês vá realmente acelerar o processo. Sempre termino exausto como se tivesse levado uma surra.

Também tenho outras desculpas pro sumiço. Na terça-feira o Patrick ligou pro “Tribunal d’Instance” pra saber como andavam nossos papéis e a oficial disse que ia mesmo nos ligar. Como um outro casal cancelou um agendamento, fomos convidados a antecipar a assinatura do nosso PACS. Na quarta assinamos às 11h00 da manhã.

Dá pra imaginar que a semana virou uma loucura. Almoçamos no Marais na quarta, num restaurante brasileiro. Feijoada pra comemorar. E eu que nunca fui fã de feijoada!! Mas o M. Plaisant adora. Voltamos ao mesmo lugar na quinta à noite pra comemorar o aniversário do Patrick. Comi moqueca de peixe. Ele, bobó de camarão.

A sexta foi o tiro de misericórdia ;-) Quatro adultos e uma criança aqui em casa pra comemorar a assinatura do PACS. Não seria França se não houvesse jantar completo: 5 pratos!! Tenho ainda que agradecer ao Paulo e ao Gil pela dica do site da Ana Maria Braga ;-) Peguei receita de berinjela gratinada pra entrada. Na verdade, foi o prato mais trabalhoso. O Patrick me ajudou porque tinha que passar na frigideira e sou uma negação com essas coisas. O prato principal foi uma carne assada na panela de pressão (também receita do site) que fiz praticamente sozinho. Ainda fiz arroz e o Patrick, o feijão. Isto já tá parecendo o blog da Ofélia! Servimos coquetéis de champagne e cachaça e a sobremesa, os convidados trouxeram. Ufa!!! (A foto que publico aqui é da sobra que almocei na segunda)

No sábado fomos almoçar com os Plaisant. Está na hora deles irem pra casa do litoral, como todo ano depois que esquenta um pouquinho. Fomos nos despedir e ajudar a colocar as malas no carro. O resto do dia foi pra lá de preguiçoso. O problema foi que eu trouxe mais tarefa pra casa (devoir à la maison). É que a Mme. Plaisant adora me ajudar com o francês. Ela falou um pouco comigo sobre as mudanças da língua, sobre como o argot (gíria) toma conta de tudo, e me emprestou mais um livro (agora são 2) pra eu folhear, escolher algum tópico e escrever um relatório pra ela. São 2 desses livros bem chiques de fotos e textos complexos . Um é sobre os castelos franceses e o outro, sobre monumentos arquitetônicos em geral. Acho que vou escolher aqueles que já conheço e enviar os textos por e-mail. O M. Plaisant é muito divertido. Ele sempre brinca com a esposa e gosta de contar histórias da II Grande Guerra. Como sábado era o feriado em comemoração pelo final da guerra, ele tinha ido ao cemitério participar de uma cerimônia e depois do almoço me contou dos vinhos super caros que ele e outros soldados encontraram num quartel dos alemães na região da Floresta Negra.

No domingo fomos passear nos jardins do Parc de Bagatelle. O Jardin Botanique de La Ville de Paris.


sábado, 1 de maio de 2010

1º de maio... tradições francesas

Hoje pela manhã fomos ver Iron Man 2. Tá virando hábito, cinema no sábado de manhã.


O Patrick já tinha me falado da tradição de dar muguet (lírio do vale) aos amigos no 1º de maio. Mesmo assim me surpreendi com o número de barraquinhas em cada esquina. É que esses vendedores não precisam de nenhuma licença pra este dia especial. Então, a cidade fica mais florida ainda. Ganhei um ramalhete lindo logo depois do cinema e o Patrick comprou mais 2 pros pais dele. Eu iria junto visitar o M. e a Mme Plaisant, mas fiquei um pouco indisposto. Patrick foi às 14h00 e voltou às 18h00, com mais 2 ramalhetes de muguet que eles mandaram pra mim. Parece que a tradição é bem séria ;-)

Como não fiz nada o dia inteiro, fomos caminhar por Courbevoie, que estava muito tranquila, por conta do feriado. Observando a minha vizinhança tenho a impressão de que 70% da cidade surgiu nos anos 1960. São prédios de 6 ou 7 andares, alguns poucos mais altos, como o nosso que tem 19. E aqui ou ali vê-se algo mais antigo, como uma casa que pode ser da época da guerra. Não sei se Courbevoie derrubou suas construções antigas quando La Défense começou a ser construída, ou se era um lugar meio vazio, com espaço disponível pro novo. Preciso investigar. Pra mim, parece incrível que exista algo assim a 10 minutos de trem ou RER de Paris. Pena que não levei minha câmera no passeio. Outro dia tiro fotos. Hoje ficam só as do muguet e da porcelana de Limoges em que o Patrick me serviu um cafezinho no fim do dia. Herança que ficou da bisavó dele ;-)

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Bate-boca nos correios!!

Ontem fomos eu e o Patrick à agência central dos correios (La Poste) aqui em Courbevoie. Acho que já disse que gosto de ir aos correios em Paris e tentar usar meu francês (não, não é usar meu “marido” francês, é o meu domínio quase incipiente do idioma mesmo).

Minha amiga Lusia enviou uma encomenda registrada e vimos pelo site brasileiro dos correios que tinham tentado entregar 2 vezes sem sucesso. Olha, esse serviço funciona MUITO bem a despeito de todos os possíveis erros humanos. Com o mesmo código dá pra ver o andamento também no site do correio francês. É um código alfanumérico bem longo e as 2 últimas letras correspondem ao país de origem. O último dado deles dizia que a encomenda estava disponível pra retirada na agência central de Courbevoie, que fica a menos de 10 minutos de caminhada de casa. Lá, os funcionários tinham registrado BA, em vez de BR, no número, mas com algum esforço, acharam o pacote e no final foram muito simpáticos.

O interessante foi perceber a diferença cultural na entonação da conversa. O Patrick me disse que eu teria que fazer tudo sozinho. Ele tá sempre tentando testar minha capacidade de uso do idioma. Até tentei, mas a mulher acabou me bloqueando com uma afirmação muito segura de que o número estava errado. O Patrick, então, intercedeu, explicando que estava comigo e que o número estava correto, com a mesma firmeza (que pra mim soava como rispidez) e que ele veio ajudar por conta do meu francês. A mulher disse que já tinha entendido tudo com o meu francês mesmo, mas como o Patrick foi duro ela resolveu tentar outras formas de achar o pacote e achou!!

Pra mim, ouvindo a conversa atentamente, tentando entender as palavras, aquilo tudo soava como um grande bate-boca. Parecia que os 2 poderiam se atracar e rolar pelo chão a qualquer momento. Aí, de repente, o tom muda completamente, como se não tivesse havido nenhum enfrentamento. Resolvida a questão de encontrar o pacote, a mulher começa a falar de outros brasileiros que moram na região, “todos muito simpáticos, mas ela não compreende como deixam um país com as praias brasileiras pra morar na França” e depois explica como é difícil lidar com o público grosseiro, geralmente pessoas mais ricas que jogam coisas no balcão sem nem falar com ela direito. Coisas que ela devolve com a mesma atitude, bla, bla, bla... e a conversa termina com sorrisos e até aperto de mão!!

Incompreensível. ;-)Compreender uma língua, todo mundo já sabe, passa por entender essas pequenas (nem tanto assim!) diferenças culturais. E eu ainda lutando com palavras!!

Ah!! Esqueci de dizer que a falha inicial foi minha! ;-) Entreguei meu endereço manuscrito pra Lusia que, coitada, não entendeu meu garrancho e endereçou pro número 3º, em vez de 30. Acontece...

Acordeons no metrô de Paris.

Missão cumprida com o post filosófico da última segunda. Valeu até e-mail elogioso do MM!! Olha que isso é bem difícil. Claro que veio com uma leve acusação de que sou injusto. Mas quem se importa?! É meu blog. Eu posso, sim.

Agora vamos voltar ao estilo “gossip”, mais leve. Recebo muito mais comentários quando sou politicamente incorreto expressando meus preconceitos. Blog é igual novela da Globo: se não tiver visões de mundo enviesadas, ninguém nem presta atenção.

Quero falar dos acordeons no metrô de Paris. Cara, que saco!!! Fico tão intrigado com isso que pedi pro Patrick tocar no itunes o Yann Tiersen, autor da trilha sonora do Amélie Poulain e ficamos discutindo essa coisa do instrumento. Acho que os franceses sabem que o acordeom faz parte do estereótipo da cidade, tanto que não tá só no AP, também tá na trilha do Ratatouille.

O que aconteceu aqui foi mais ou menos o mesmo que em vários outros lugares do mundo. O rock, na década de 1960, revolucionou o pop, e lançou algumas coisas tradicionais no território do brega. Mas no fim do milênio essas coisas começaram a ser redescobertas. Claro que sempre teve o Piazzolla , mas os virtuosos a gente nem considera. Músico bom pode tocar até caixinha de fósforo. Pois bem, o acordeom voltou a reinar sobre Paris.

O que não compreendo é essa infestação do metrô por músicos ruins. Tudo bem que o instrumento reconquiste seu lugar. Mas não adianta ser um instrumento de status se o músico não for bom. Cara, é um pesadelo!!! Você toma o metrô e, às vezes, num percurso de menos de 10 estações, dá tempo pra 2 apresentações de “artistas” diferentes. Os coitados tocam bem rapidinho pra poderem terminar uma música entre 2 paradas. O pior é que ainda não vi ninguém dar nem uma moedinha. O desempenho deles é mais mal remunerado até que o dos mendigos! Dá pra ver as caras de incômodo.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Surpresas críticas.

Lembram que suprimi "um parágrafo filosófico sobre a estranheza e o não-pertencimento" em respeito ao meu amigo MM?! Pois não é que o danado agora tá cobrando o tal parágrafo!!?? Nem adiantou dizer que tava mal escrito.

Na verdade tenho refletido muito sobre esta minha condição de estrangeiro. No mundo moderno é muito difícil nascer estrangeiro. Mesmo se seu pai ou mãe se jogaram no mundo, são raros os casos de apátridas. Isso quer dizer que a maioria dos estrangeiros escolheu isso.

Muita gente já tentou entender o processo. A Julia Kristeva, num livro de que a academia não gosta, fez um retrato desse povinho. Gosto de livros de que a academia não gosta. Tomando algumas idéias da Kristeva, fico tentando me entender e mesmo decidir que caminho seguir. Acho que vivo o momento quando o estrangeiro se depara com uma enorme encruzilhada. Posso ser esse estranho, que vai olhar pra sua pátria de origem respirando aliviado por ter saído de lá e dizendo que nada pode fazer pra ajudar, ou posso ser estranho aqui, neste outro lugar ao qual não pertenço, onde vou sempre ter sotaque, onde não consigo nem sequer chegar ao fim de um jantar social porque não engulo 5 pratos (aliás, pra não fazer feio, como pouco, mas então faço feio porque as pessoas acham que não gosto da comida). Ou será que isso nem é encruzilhada e as 2 coisas estão, na verdade, juntas?!

Ainda não estou certo, mas acho que a grande pergunta é "quando" essa opção de ser estranho é feita. Será mesmo que isso aconteceu quando decidi tentar vir morar com o Patrick?! Ou eu já tinha escolhido ser estranho e só esperava a oportunidade de ir pro meu lugar de estranho? Porque, afinal, fala sério, não dá pra querer ser estranho depois dos 40 sendo funcionário público. Dá pra ser maluco, estranho, não!

Me enrolei? Acho que sim. Aceito idéias colaborativas.

Castanheiras em flor!!!



Se quiser ouvir, clique aqui
Ella Fitzgerald
April In Paris

I never knew the charm of spring
I never met it face to face
I never new my heart could sing
I never missed a warm embrace
Till April in Paris, chestnuts in blossom
Holiday tables under the trees
April in Paris, this is a feeling
That no one can ever reprise
I never knew the charm of spring
I never met it face to face
I never new my heart could sing
I never missed a warm embrace
Till April in Paris
Whom can I run to
What have you done to my heart

Toda cidade tem uma ou duas músicas que a imortalizam e que nos fazem querer conhecê-la. Outro dia apresentei "Sampa" ao Patrick depois foi "Lá vou eu" da Rita Lee e ontem foi "Samba do Arnesto", que acho que são ótimos representantes de SP. Bom, Paris é um pouco diferente. Deve haver bem mais que 3 músicas sobre esta cidade.



Outro dia ouvi a maravilha cuja letra colei aí na abertura do post e fiquei curioso sobre "chestnuts in blossom", as tais castanheiras em flor. Bom, estamos em abril, já vi e fotografei tudo quanto é tipo de flor. Onde andariam as tais flores de castanheiras?! Se a música fala especificamente nisso, como é que eu ainda não tinha trombado com uma. Sabia que a castanheira era uma baita árvore, mas não lembrava de já ter visto uma.




Hoje, saindo da escola, resolvi, pela primeira vez, visitar o Jardin du Luxembourg. Não é que as danadas também estavam lá!! O lugar tem todas as castanheiras em flor do mundo. Tirei até umas fotinhos pra ilustrar o que é isso. Também almocei num quiosque (dá pra ver na foto) de crépes e tomei um copo (de plástico) de vinho rosé.

Mas quer saber, mesmo?! Vá ouvir a Ella cantando isso que você vai querer embarcar pra Paris ainda hoje pra ver o que são "chestnuts in blossom"!!

p.s.: não tem jeito... é muito difícil postar muitas fotos aqui neste blog, pelo menos pra mim... quem quiser ver as outras fotos e não for usuário do facebook, use este link: Fotos do Jardin du Luxembourg

Professores de inglês em Paris.

Como o Bob ficou o início da noite na cozinha (cozinha tipicamente Parisiense não comporta 2 pessoas), o Patrick foi ajudá-lo e foi a Vicki que me fez sala. Muito gentil e incentivadora. Ela era da área de marketing em NY. Quando chegou aqui começou a dar aulas de inglês. Agora conseguiu reunir as 2 coisas: está dando aulas de marketing em inglês na universidade. O mais engraçado foram as dificuldades que ela me contou. Acho que issoo vai interessar aos meus ex-colegas, professores de EFL. Ela disse que os alunos franceses usam celulares e laptops o tempo todo pra trocar msgs durante a aula. E conversam sem parar. Disse que uma das alunas até perguntou por que ela ficava tão estressada com isso e se nos Estados Unidos os alunos não conversavam durante a aula ;-) A Vicki me disse que não tinha certeza, porque não dava aula em NY. Mas então ela recebeu um grupo de alunos de universidades americanas e, como esperava, eles não falam durante a aula. Pois é, mais uma diferença cultural.

Eu disse que a Vicki foi muito incentivadora porque tanto ela quanto o Bob me deram a maior força e acreditam que vou conseguir dar aulas de inglês em Paris. Bate na madeira, cruza os dedos, por favor, pessoal, todas as simpatias que vcs conhecerem pra ajudar nisso ;-)É claro que é muito mais fácil pra uma americana conseguir aulas de inglês. Afinal, aqui tem o mesmo preconceito que no Brasil: a idéia de que um falante nativo de uma língua é necessariamente melhor professor dessa língua. Mas talvez a Vicki possa ser meu primeiro contato pra entrar nesse mundo. Vamos torcer!

Dois jantares II

Tinha ficado devendo este post sobre o jantar de sábado, na casa dos americanos, Bob e Vicki. Talvez tenha sido a facilidade de comunicação, mas acho que nunca fiquei tão à vontade desde que cheguei a Paris.

Primeiro, esse casal de americanos é muito diferente de todos os estereótipos que posso formular. Imagine um casal que já tem filhas graduadas na universidade, que desiste de uma vista maravilhosa em Manhattan pra vir morar em Paris. Claro que Paris vale a pena, mas eles já tinham uma vida super tranquila, suponho. Acho que é porque eles são realmente especiais. Estão em Paris há 4 anos, mas ainda não falam muito francês, o que é comum pra um falante de inglês. E isso ligou minha luz de alerta. Não sou americano, mas também me viro bem na língua deles. A própria sensação de liberdade por passar uma noite agradável falando só inglês já é um aviso pra eu ficar atento.

Mas vamos ao jantar. Foi a primeira vez que o Bob cozinhou pra amigos. E ele está de parabéns. Era um jantar indiano ;-) De entrada, os típicos bolinhos, pakora, samosas. Lassi pra beber. Como prato principal, chicken masala. De sobremesa, flan ;-) Ele até comprou arroz doce em caixinha, mas preferiu não fazer. O flan aqui de Paris é uma delícia!!! Dá pra perceber? Só 3 pratos!!! A grande diferença é que num jantar francês, ficamos de 4 a 5 horas à mesa. No sábado, foram 2 horas, só. O resto do tempo passamos conversando. E o assunto nem era comida.

O resto do jantar conto em outro post porque vai interessar mais aos meus amigos professores de inglês.

domingo, 25 de abril de 2010

Dois jantares...

Minha vida social aqui está intensa!! ;-)

Às vezes vamos à casa dos Plaisant, em Le Pecq, em outras visitamos a Laurence e o Bruno. Este fim de semana foram 2 jantares e acho que vale a pena comparar.

Na sexta-feira, recebemos a amiga do Patrick, Emanuelle, e o esposo, Fréderick. Casal extremanente simpático. Ela chegou primeiro, trouxe uma orquídea phalaenopsis, linda. Ele, 10 minutos depois, chegou com uma garrafa de vinho de 32 anos!! Quase caí pra trás ;-)

Foi o típico jantar francês. Preparei os "aperrô" (é mais ou menos assim que se pronuncia "aperitivos"). Claro que tinha que ser algo brasileiro. Fiz caipirinha com a cachaça que a Daniela mandou de presente pro Patrick, Coração de Minas, direto de Carmo do Rio Claro.

Aí começa a comilança. De entrada tinha enroladinho de crepe, queijo e salmão (que em francês é com u e já começou a me confundir). Só que a receita era com mascarpone e o Patrick esqueceu de comprar e substituiu por creme fresco. Já dá pra imaginar. Sabor: 10!! Aspecto: "bonitinho" ;-)

Passamos então ao prato principal: almôndegas com vagens. E já estávamos no vinho. Não o de 32 anos, porque eles insistiram pra gente guardar pra uma ocasião mais especial. O Patrick, envergonhado, abriu um Bordeaux 2007 que eu acho fantástico. Tá bom, tá bom, mais uma coisa que não entendo: vinhos! Anotado na lista de coisas a aprender.

Depois, salada de endívias. Pra quebrar o amargo o Patrick pôs mel no molho vinagrete. É que sempre acho as endívias muito amargas. Nessa altura eu já disfarçava e servia um mínimo pra mim porque não tava aguentando mais ;-)

Aí, vêm os queijos: 4 tipos! Cara, até já me acostumei aos perfumes (percebe? já tó chamando de perfume, nem é mais cheiro), o Patrick escolhe os mais suaves pra facilitar pra mim, mas é tanta comida!! Realmente não entendo como estas mulheres são magras.

Finalmente a torta de maçã, à moda normanda. Até que nessa ajudei bastante. Fui ei que descasquei e fatiei as maçãs.

Ainda teve café, que dispensei, e licores. Ah! e todo mundo, menos eu, repetiu a torta depois do café.

Quase dormi à mesa e fiquei morrendo de vergonha. Eu estava naturalmente cansado porque acordei às 7h30 e fui fazer simulado de exame, mas acho que o pior é realmente o esforço contínuo pra entender o francês. E a tensão de ter que estar pronto pra a qualquer momento interagir;-) A gente nunca sabe quando, no meio da conversa, alguém vai virar e pedir minha opinião.

Bom, o jantar de hoje, sábado, foi na casa dos americanos, Bob e Vicki. E conto no próximo post. O que vc acha que foi diferente? E igual? Eles moram em Paris já há 4 anos.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Almoço na Alliance Française na quinta 22/04/2004




Esqueci de contar que ontem, quinta, fiquei depois da aula pra estudar um pouco. Na verdade fiz prática de exame. Gosto disso e também acho que os exames são um foco mais claro. Como existem 6 níveis dos exames de DELF/DALF é mais fácil, agora que ainda estou no nível 2, ter como objetivo "passar no exame nível 2" que algo vago como "falar francês". Sempre achei engraçado aqueles alunos de língua estrangeira que chegam à escola e perguntam "quanto tempo leva pra falar aquela língua com o método daquela escola". Sempre que ouvi isso me deu um desânimo. Uma vontade de mandar o cara investir a grana num esporte, ou numa roupa cara no shopping.

Como tive aula de manhã, das 9h00 às 12h00, almocei no refeitório da escola. Comida muito boa!! Tirei umas fotinhos pra dar uma idéia. A primeira é a foto da vista da minha sala de aula, que fica no 3º andar, bem na frente do prédio. Dá pra ver o Boulevard Raspail. A propaganda com a foto do Andy Warhol é bem legal e tá espalhada por toda a cidade. Diz "Je m'installe à Metz". É uma referência à abertura de um novo Centro Pompidou em Metz, uma cidade francesa próxima à Alemanha. As outras 2 fotos mostram minha comida. Com vinho, é óbvio, porque ninguém é de ferro e estamos na França.



Sexta-feira muito cheia...

É isso que dá topar criar um blog!!! Já levei bronca por ainda não ter postado nada hoje. E o pior é que também tem a pressão pra escrever algo que preste. O dia está punk. Fui pela manhã fazer simulado de exame na Alliance Française. Pensei que fosse muito rápido porque estou no nível 2 de 6 em francês ;-) Mas qual!! Era uma sessão pra validar questões pro BULATS, um teste de língua pra profissionais, que existe em inglês, espanhol, alemão e francês. Ou seja, era um mesmo teste pra todo mundo, com 50 questões de compreensão oral e mais 60 de compreensão escrita, do nível 1 ao 6. O pior é que no teste de compreensão oral as questões eram aleatórias, então você tem que tentar responder todas. Bem cansativo. Fiquei de 9h30 a 11h30.

Voltei pra casa correndo. Almocei com o Patrick e fomos fazer uma caminhada num parque aqui perto. Depois passamos em La Défense pra comprar ingresso pro "Clash of Titans" amanhã às 10h30 da manhã ;-) É que amanhhã temos compromisso à noite e, se não virmos o filme este fim de semana, vamos ficar atrasados, pois ainda queremos ver o Homem de Ferro 2 ;-) Minha vida com cinema aqui ficou bem esquisita. Sempre gostei de cinema francês, tirando Godard (que levei anos pra ter coragem de assumir que odeio), e agora que estou aqui, só posso assistir a filmes americanos. É que nível 2 de francês não me permite entender filmes em francês sem legendas.

Bom, voltamos pra casa mas nem subimos. Entramos direto no Carrefour (marca que só agora consigo pronunciar e cujo significado banal conheço, mas não vou entregar; quem não souber, vá ao dicionário de francês e descubra o significado de carrefour) pras compras pro jantar de hoje. Uma amiga do Patrick vem aqui com o marido. Depois tive que ajudar na preparação da torta pra sobremesa.

Fugi 2 vezes pra ler e responder e-mail e agora, finalmente consegui "vomitar" esta postagem de blog. Se não estiver razoável, a gente acerta mais tarde.

Beijos,

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Notícias na janela...

Hoje acordei e as páginas internacionais estavam bem ali, na varanda. Os céus de Paris estavam novamente rabiscados de rastros de aviões.

Andei acompanhando a crise pelos jornais na internet e sabia que a qualquer momento os caras iam criar coragem de liberar o tráfego aéreo. Duas grandes companhias já tinham feito voos experimentais e nada deu errado. Agora é torcer pra nenhum avião cair.

Também tenho recebido comentários legais e encorajadores sobre o blog. Meu irmão fez uma crítica legal. Os posts estão enormes. Expliquei que tava com tudo represado. Afinal, comecei a escrever um mês depois de chegar aqui. Prometo que agora a intensidade vai se normalizar.

Franceses e o inglês.

Mais preconceito ;-)

Há tempos ouço pessoas reclamando da dificuldade de comunicação na França: "franceses não falam inglês"; "franceses não gostam que fale inglês com eles". Eu mesmo já reproduzi comentários assim.

Minha experiência aqui tem sido bem contrária a isso. Outro dia fui ao correio (adoro La Poste, já fui à agência perto da escola umas 5 vezes!!) e quando não entendi o valor total que deveria pagar a senhora que me atendia imediatamente repetiu "em bom inglês"!! A coitada ainda levou bronca e me pediu desculpas. Falei que era estudante de francês e me esforçava pra entender. Ela respondeu que só quis facilitar.

Mesmo a idéia de que a aceitação da língua inglesa começou a rolar entre os mais jovens não se aplica à essa situação, porque era uma senhora, funcionária dos correios, pelo menos 15 anos mais velha que eu.

Aqui no centro comercial de Charras, no Paul, tem uma mocinha muito simpática que conversa muito com o Patrick sempre que passamos pelos corredores. No sábado passado, fiquei só e desci pra comprar um sanduíche. Foi só mandar o meu "bonjour" que ela já começou a sorrir e a me atender toda espertinha, em inglês ;-)

Ou seja, os franceses falam inglês demais comigo.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Passeio a pé perto de casa - 19/04/2010

Estou tentando uma experiência de postar muitas imagens. Mas as coisas não vão muito bem.
São imagens da tarde de segunda-feira. Cheguei da escola e a Nathalia, a moça do leste europeu que cuida da casa uma vez por semana, estava pra chegar. Como era o dia mais quente desde a minha chegada, o Patrick me propôs um passeio. Escolhi andar até o Sena e conhecer a ilha mais próxima aqui de casa.


O Sena tem essa coisa que me encanta. Passa por Paris serpenteando e vai assim pela Normandia até o mar. Em setembro do ano passado passeamos um dia por esse caminho de carro, passando por Rouen, Jumièges e terminando em Honfleur, um portinho lindo às margens do Canal da Mancha. Pois então, o rio passa por Paris e na segunda curva já tá aqui ao lado, em Courbevoie.
Andamos até a margem vendo os jardins super floridos. Alguns realmente me parecem artificiais. Esse arbustinho verde, com florzinhas amarelas, por exemplo. Parece que as flores foram pintadas com spray de tinta e nem se deram o trabalho de proteger as folhas. Parece que o spray ultrapassou o limite das flores. Engraçado! Clicando na imagem ela abre e depois, com um segundo click dá pra ver super bem.


Depois, chegando à margem, atravessamos uma ponte até a ilha no meio do Sena, que fica, na verdade, já em outro município: Neully-sur-Seine. A ilha toda, além de bem cuidada, tem essa atmosfera de tempo parado, de lazer, de banho de sol. Voltamos pela outra ponte e paramos pra uma cervejinha.



Mais fotos da ilha:






































Quando chegamos eu tinha recebido minha primeira correspondência no novo endereço: o atestado de que não sou PACSado na França. PACS é o pacto de união civil que eu e Patrick vamos fazer. Era o último documento faltante. Então, sentamos no sofá e enviamos tudo pro registro civil. Devemos ser chamados em 2 meses pra oficializar a união, mas achamos que esse momento já precisava ser registrado. Taí a foto. Momento histórico!!



Depois, coisas mais mundanas. Acho que o que mais odeio de serviço doméstico é estender roupa no varal. Por que será que algo tão banal nos toma tanto tempo?! Era assim em São Paulo e, pelo jeito, vai continuar assim em Courbevoie! Nunca passei roupa mesmo, mas prefiro passar a estender no varal. E aqui, é a Santa Nathália que passa ;-) Nunca vesti camisas tão lisinhas.