domingo, 20 de junho de 2010

Epifania no Museu Rodin.


Ontem, 19/06/2010, fomos visitar o Museu Rodin. Foi minha primeira visita e gostei bastante, principalmente porque é um museu pequeno, daqueles que não saturam a capacidade de percepção estética. A verdade é que canso do Louvre e, toda vez que vou lá, saio achando qualquer obra de arte um saco ;-)





Mas o que me surpreendeu, mesmo, foi o choque que tive ao ver um negro lá dentro! O lugar estava lotado, como deve estar sempre. Se eu não tivesse me deparado com esse único negro, provavelmente não teria notado nada de estranho, a não ser os remendos mal feitos no assoalho, que fazem as pessoas tropeçarem durante a visita.






Mas a visão desse único homem negro, entre mais de uma centena de visitantes em um museu tão pequeno, me fez pensar nas minhas idéias pré-concebidas sobre a Europa. Tá bem, ninguém me disse que a Europa era um lugar perfeito, mas acho que eu esperava um pouco mais de igualdade racial aqui.



Paris tem uma população de afrodescendentes enorme. Encontro essas pessoas diariamente no transporte coletivo. Se elas vivem, trabalham, transitam por Paris, por que não estão no museu? Na verdade, não estão NOS museus. Com esse choque de ontem, me lembrei da minha visita co Museu de Artes Decorativas na sexta-feira, 18/06, e mesmo da minha última visita ao Louvre, quando o Manolo estava em Paris. Não há negros nesses lugares! Pelo menos nunca vi um número significativo, que correspondesse à porcentagem da população.





Acho que o mais chocante é mesmo minha ingenuidade, minha surpresa!

domingo, 6 de junho de 2010

Conversas bilingues.

No dia 26 de maio, convidado por nossa amiga Vicki, de NY, fui a um encontro de falantes de língua inglesa. A Vicki, não lembro se já comentei aqui, é esposa do Bob, ex-colega de trabalho do Patrick. Eles são um casal muito simpático, vivendo em Paris há 4 anos. Já nos convidaram pra jantar e também já fomos juntos visitar o Castelo de Fontainebleau, onde viveu Napoleão I. Bem, ela é super gentil e se preocupa com minha adaptação e, principalmente, com minha dependência do Patrick. Vive me dizendo que devo me preparar pra quando o Patrick voltar a trabalhar, o quê, aliás, será amanhã ;-)

O encontro em inglês é organizado por um francês, Jean-François, mas reúne uma boa variedade de pessoas. Tudo bem que nacionalidades não passaram de 3: americana (3 pessoas), francesa (acho que 1 dúzia) e brasileira (1!). Foi legal, mas um tanto difícil de aproveitar, porque tinha música no bar e muita gente tentando falar ao mesmo tempo. Acabei não fazendo contato com pelo menos metade dos participantes. Mas mesmo assim valeu a pena, porque conheci minha amiga Edna.

Edna é uma professora de francês pra crianças e adolescentes estrangeiros. Foi casada, tem um filho de 23 anos e ainda considera os outros 2 filhos do ex como se fossem seus. É super aberta, boa ouvinte, curiosa e adora viajar. Como bico, nas férias, acompanha crianças francesas ricas em viagens a países de língua inglesa. Já fez isso várias vezes na Inglaterra e na Irlanda. Também já levou anjinhos a Boston. Agora, como está na agência que organiza as viagens há muito tempo, vai pela primeira vez à Austrália.

Foi a própria Edna que propôs encontros pra intercâmbio linguístico. O Bob fez muita propaganda do meu inglês e minha capacidade como professor de língua estrangeira ;-). O fato é que tá muito legal. Escolhemos a terça-feira. Na semana passada fomos a um café chamado Odessa, perto de Montparnasse. Na próxima terça vamos a outro lugar, chamado La Tartine, na rue de Rivoli. Falamos 1 hora em inglês e depois 1 outra em francês. Acho que desta vez vou propor a inversão da ordem. A Edna é muito compreensiva e me estimula muito quando falo francês. Sei que meu francês tem um nível muito mais básico que o inglês dela, mesmo assim ela é sempre paciente e me elogia muito ;-)

Cuidado: crottes/troços na calçada!

Todo mundo já deve ter ouvido falar do amor, ou da fixação, dos parisienses por cachorros. Minha professora disse, outro dia, que se um pai espancar o filho na rua, ninguém se intromete, mas se o agredido for um totó, vira caso de polícia. Tudo bem, espero que tenha sido um exagero. A verdade é que já nem me revolto tanto quando alguém entra com o bichinho de estimação e ocupa uma mesa de restaurante ao lado da minha.

Agora, não dá pra engolir que os cidadãos não recolham o cocô! Todo mundo fala disso. Os "crottes" ou "troços" já são uma instituição parisiense, como as bicicletas ou as baguetes. Estão em todo lugar. Existe multa prevista, mas ninguém parece se importar. Esse é um dos paradoxos de Paris, que coincidentemente estamos discutindo na "Alliance Française" estes dias. Na verdade, talvez seja o mais superficial e o menos importante dos paradoxos, mas é um dos mais visíveis.

Estou relendo "The Flâneur - A Stroll through the Paradoxes of Paris" do Edmund White. E é incrível como dois meses vivendo aqui já mudaram completamente minha percepção. Parece um novo livro! O mais incrível é que eu nem tinha notado o subtítulo na primeira leitura.


Pra ilustrar este post, também porque acho que fica monótono quando escrevo sem fotos, vai um registro tomado neste sábado, 5 de junho, na entrado do "Champ de Mars", onde fomos encontrar a amiga do Patrick, Celia, com as crianças, Lucien,4, e Louise, 3.

Policiais gentis ;-)

Outro dia fui passear em Paris, na verdade, com o objetivo específico de comprar algum livro pra me ajudar a praticar pronúncia. Fiz meu caminho preferido: metrô até Châtelet, no 1º "arrondissement" e caminhada pelo Boulevard de Sebastopol. Gosto porque assim posso atravessar a Ilha "de la Cité" pelo meio dos turistas e chegar às livrarias Gibert Jeune do outro lado do Sena, na praça "Saint Michel".

Quando atravessei a Ponte "au Change", pra "entrar" na ilha, presenciei uma cena um pouco perversa, mas interessante. Um turista perguntou a um policial, no que me pareceu francês perfeito, onde ficava a "Fontaine St. Michel". Sem piscar o policial olhou pra fonte mais próxima e apontou: "é ali". O turista pareceu muito decepcionado, provavelmente porque já tinha visto uma foto da Fonte São Michel e imaginava algo muito mais suntuoso, como é, na verdade. Fiquei feliz por entender tudo isso e, me achando quase parisiense, decidi fazer justiça, desarmando o golpe do policial que provavelmente, cansado de turistas, resolveu pregar uma peça que só ele deve achar divertida. Alcancei o turista e apontei a direção correta da fonte. Ele aceitou minha ajuda, mas parecia ainda mais decepcionado com a minha intervenção.

Não entendi o turista... mas como brasileiro, que acredita que "quase" todos os policiais são perversos, não tive nenhuma dúvida no meu julgamento do "poulet" (na gíria, os policiais são conhecidos como "frangos").