domingo, 4 de julho de 2010

Sábado com feijoada.


Ontem fizemos nossa primeira feijoada. As cobaias foram o Sérgio, brasileiro e o Lionel, francês. Não sei se por pura gentileza de visitantes, mas ambos disseram que estava muito boa ;-)




O Patrick ajudou muito, mas acho que posso dizer que os créditos, desta vez, são meus. Ele descobriu uma "couve chinesa" que tem por aqui, porque a única coisa que a gente não descobriu, ou pelo menos um substituto à altura, foi mesmo a verdura. Então, o crédito da "couve chinesa" fica mesmo pro Patrick. Ela ficou, depois de refogada, mais parecida com acelga.

Também fiz o arroz branco e a farofa, com banana crua, como a Paty faz, e todo mundo adorou.

Pronomes relativos e subjuntivo ;-)

Acho que gosto um pouco demais de gramática! Gosto de nomenclatura gramatical, o que, para alguns linguistas, pode parecer até um crime. Este meu período estudando francês parece aguçar isso. Talvez porque os professores de francês como língua estrangeira (FLE) que encontrei até agora na França (pelo menos 3 em 4) são muito gramaticalistas. Também porque cheguei ao bendito subjuntivo em francês. Comecei a pensar como é bom ser falante de português nessas horas. O português tem usos bem parecidos para o subjuntivo.

Quando estudei pronome relativo já pensei muito nos meus alunos de inglês no Brasil que não conseguiam entender meu mau humor quando eles usavam só 2 pronomes relativos ("que" e "onde") pra qualquer situação e nunca uma preposição combinada. O resultado é que tinham uma dificuldade enorme pra transferir isso pro inglês. E sempre me achavam chato nas correções porque diziam que a preposição era um "detalhe bobo" em expressões como "in which", "from which", "of which". Imagine quando eu tentava ensinar "whose" e eles descobriam que correspondia ao "cujo" do português.

Agora que estou brigando com o subjuntivo francês e acho difícil quando ele não corresponde ao nosso, como com o verbo "esperar/espérer", fico pensando no falante médio de português em São Paulo. Sou neurótico ou o paulistano cada vez mais se recusa a usar o subjuntivo?! Minha amiga Fê Damigo, professora universitária, profunda conhecedora dos tempos e modos verbais, também me chama de chato e diz que adora quando a sobrinha pergunta "quer que eu busco"?. Fê concorda comigo que isso é o "subjuntivo paulistano" e diz que adora.

A verdade é que também acho "engraçadinho" o jeito como as crianças falam. Mas os adultos não deviam falar de outro jeito? Pelo menos os adultos que passaram alguns anos nos bancos escolares?! Aí lembro da minha amiga Lusia, que sempre me questiona a relevância do conteúdo ensinado na escola. Ela me cutucava quando eu achava um absurdo que um aluno olhasse o mapa da Europa e confundisse a Grã-Bretanha com a Grécia, com a desculpa de que ouvia muito falar em "Ilhas Gregas". Detalhe! A aluna que me expôs a essa pérola era formada em geografia!

Acho que aos 44 anos assumo meu consevadorismo e meu ranço linguístico. Tudo isso para manifestar mais um dos meus preconceitos ;-) Não li nada a respeito mas, totalmente baseado nos meus achismos (e num papo com uma amiga carioca que me disse que no RJ ela nunca ouviu um adulto perguntar "quer que eu busco?") escrevo aqui que a educação em SP está matando o português. O português paulistano é dos piores praticados no Brasil. A arrogância dos paulistanos não permite enxergar isso, mas acho que os resultados em exames escolares confirmam minha afirmação.

Este meu texto polêmico e até um pouco agressivo também foi provocado por um comentário que li no caderno Link do Estadão. Foi postado por um leitor que não posso identificar. Alguém cujo passado escolar não me diz respeito, mas suponho que leitor do Estadão represente um brasileiro medianamente educado. Também nem sei se é um leitor paulistano, são hipóteses. Mas acho difícil ficar indiferente a um texto como este:

"03/07/2010 - 17:07
Enviado por: XXXXX

Na verdade é um problema cultural, para a nossa cultura não há de errado, pois vemos coisas mais expostas na praias e piscinas. Mas em outros lugares do planeta a coisa não é assim, esse tipo de imagem é visto como pura pornografia. O FaceBook tem alcance mundial e esta agindo de acordo com o ambiente multicultural que atua. A gravadora Universal sabe disso e deveria ter evitado essa polemica. Acho que mesmo que a polemica é proposital, ela é que é a verdadeira propaganda do disco."

Agora, senhores linguistas de plantão, iluminem-me! Estou aberto a rever meus preconceitos. Alguém ajude. Quem sabe eu possa compreender os caminhos percorridos pela língua portuguesa nessa metrópole fantástica que é São Paulo?! Se preferirem, apontem meus erros de português, que também não devem ser poucos. Mas não consigo deixar de ter algum dó de professores de francês como língua estrangeira em SP. Se eu sofria com o pronome relativo, imagine ter que ensinar isso e mais o subjuntivo em uma língua estrangeira pra alguém que matou ambos na primeira língua, ou que os classifica como "detalhe bobo"